INIMIGO DE INIMIGO PODE SER AMIGO ?

Na política não existem inimigos, mas apenas adversários. É bom entender isto.

O inimigo de seu inimigo é, na verdade, um indivíduo movido apenas pela ódio e é só por isto que ele busca a aproximação com você. Seu objeto de ódio é seu adversário e é a ele que quer destruir, pouco importando a sua candidatura, sua campanha. Ele quer te usar como arma.

Veja se não são estas as características gerais deles; Geralmente é ex-amigo do seu adversário. Provavelmente julga-se traído, sente-se prejudicado por alguma ação, ou falta dela, por algum motivo a amizade antiga transformou-se em ódio radical, irreversível, contra o qual não há argumento.

No seu escritório de campanha ele é recebido ora como um louco, ora como um possível aliado importante. Sua aparência pessoal, sua forma de se expressar e as “profecias” e ataques contra seu adversário passam a idéia de alguém totalmente transtornado.

Outras vezes aparece portando envelopes grandes, recheados de papéis, que ele diz serem as “maiores bombas” da política da cidade e que com aquilo vai acabar com seu adversário. Nesta hora ele parece ser a solução para sua eleição.

Ele carrega e mostra este envelope para todo mundo, mas nunca abre para ninguém. Ele insiste que quer falar com você, a sós, que as informações que ele tem são de suma importância e muito graves. Seus assessores até tentam tirar alguma dica para que você não seja pego no pé esquerdo, mas ele, como se diz no truco, se fecha em copas.

Quem já viveu outras campanhas, sabe do que estou falando. De quatro em quatro anos estas figuras aparecem. Claro, sua primeira reação seria de não recebê-lo. Afinal, já perdeu seu tempo mais de uma vez, mas... E Aquele envelope cheio de provas ? Será que desta vez ele teria realmente alguma coisa útil ? E se desta vez o homem estiver cheio de razões ? Tudo bem ! Vamos lá ver o que ele tem, certo ? Errado !
Chama o homem. Manda ele entrar. Vamos ver o que tem ali, finalmente.
Aí vem a decepção. Papéis, alguns documentos antigos, jornais antigos, cópias de documentos oficiais a que todos tem acesso, bilhetes, anotações e mais um monte de “provas” que ele considera como “bombas”. Muita coisa que já foi respondida, esclarecida, desmentida. Aquilo que ele julgava ‘SIGILOSO’ não passa de pão velho e requentado. Ninguém vai engolir aquilo.

Outros deste tipo até podem trazer alguma coisa que possa causar algum dano ao seu adversário, mas fique esperto. Isto poderá lhe custar muito caro. Ele não ficará satisfeito em apenas lhe entregar gratuitamente o material “bombástico”. Ele já vai querer determinar quando e como deverão utilizar o tal material, e ainda vai se sentir credor de favores que você não poderia jamais atender. E lembre-se. Ele só quer destruir o inimigo dele, que por coincidência no momento, é seu adversário político. Se amanhã ou depois você não atender algum de seus caprichos você será a bola da vez, pois ele vai considerar você como seu inimigo e vai tratá-lo exatamente como está fazendo agora com seu adversário. Lembra-se da historia do escorpião e o sapo ?

Agora veja como as coisas mudam quando alguém que apoiava seu adversário e por algum motivo sentiu-se POLITICAMENTE TRAIDO. Este se aproxima de você exclusivamente por razões políticas. As posições que você defende vão de encontro às expectativas políticas dele. Claro que ele quer agora derrotar aquele que antes ele apoiava, porém, sua posição é racional, explícita. A força que move este personagem é unicamente política. Não existe o desejo da destruição, mas apenas da vitoria política. Pessoas deste naipe existem às centenas e podem realmente serem úteis à sua campanha.

Estes sim, merecem serem recebidos para uma reunião, um café e então desenvolver um pacto político, um acordo de cavalheiros, a partir do qual você sabe que poderá contar com o apoio deles. Mas nunca esqueça : Inimigos de seu inimigo não são seus amigos. Com certeza você não tem dúvidas de que ele é inimigo de seu adversário e que a aproximação que ele busca com você é apenas para destruir o inimigo dele. Talvez até prejudicando sua campanha, muitos mais do que ajudando.
Será ingenuidade sua tratá-los como amigos pois isto vai gerar nele expectativas que você não irá querer, nem poderá, atender. Você quer derrotar seu adversário político. O objetivo dele é destruir aquele que ele tem como inimigo. O bom político conhece os limites ideais em termos de armas de campanha e saberá tirar vantagem delas. Mas para aquele personagem não há limites, principalmente porque sua hostilidade é de ordem pessoal. Não confundir com aquele outro que também quer ver a derrota de seu adversário, ao custo de sua vitoria, porém com ações puramente políticas, e até satisfatórias.

Então, encare aquele como um oportunista, baseie-se exclusivamente no interesse comum que é derrotar o adversário, e nada mais. Deixe isto claro na conversa que tiver com ele para que mais tarde não se sinta traído e venha lhe apresentar a “fatura”. Não se deixe ultrapassar estes limites da lógica política, pois você estará apenas disputando uma eleição e não indo para uma guerra para matar ou morrer. Você é o candidato, você é o comandante. Quais armas de campanha, e como serão usadas, deverão sempre ser uma decisão sua. A estratégia é sua.

Se não for para ser assim, nem deixe que abram o “envelope”.