terça-feira, 9 de agosto de 2011
Amigo ou Inimigo. Você é quem escolhe.
Na política os conceitos de amizade e inimizade são relativos, tanto que ambos merecem uma infinidade de análises e definições. Na política desconfia-se muito da amizade, que é um sentimento próprio do relacionamento humano, pessoal, destituído de interesses e baseado simplesmente na afeição. São estas características que colocam a amizade em situação de desconforto no ambiente mais “interesseiro” da política. No mundo político o “realista” prefere sempre lidar com os interesses e nunca com os sentimentos, pois o interesse é definido, quantificável, negociado.
Já o sentimento é oculto, arbitrário, volúvel e exige uma reciprocidade às vezes difícil de ser quantificada.
O poder, se não torna impossível a amizade, geralmente impõe tensões que a desagrega, pois no mundo do governante não há muito espaço para amizades. Amigos exigem muito, ou esperam muito, seja na forma de atenção, consideração ou compreensão. Desenvolvem um conceito de lealdade do chefe para com eles, que geralmente extrapola os limites toleráveis para quem precisa governar com responsabilidade.
Amigos exigem solidariedade irrestrita e imediata quando enfrentam qualquer dificuldade, que esperam sejam pagas em moeda política, que o governante acumulou com muito esforço. O amigo tende e desenvolver uma expectativa exagerada do governante e desproporcional à amizade.
Estas expectativas – compreensão, paciência, consideração, solidariedade – são perfeitamente justas a adequadas no contexto das relações pessoais privadas. Mas no mundo da política a lógica não as reconhece porque tornam-se caras do ponto de vista econômico e tirânicas do ponto de vista pessoal. Não à toa, amigos do governo estão sempre à beira da decepção com seu amigo poderoso, e sempre muito próximo do rompimento.
Mas nem tudo é perdido. Sempre haverá amigos que saberão distinguir as duas situações. Saberão separar a amizade na vida Pública da amizade na vida privada. São poucos, mas são valiosos e este você os reconhecem logo porque não lhe criam problemas. Ao contrário, resolvem-nos, mesmo que tenha algum custo pessoal e você só ficará sabendo disto depois, e por terceiros.
Outra característica do bom amigo é a de não colocar obstáculos e não ser hostil aos novos amigos ou colaboradores que você atrai para seu círculo de poder. É deste tipo de amigos que o governante deve cercar-se, pois serão apoios importantes nos momentos mais difíceis. Já dos maus amigos você deve procurar se afastar. Estes “amigos perigosos” comportam-se de maneira oposta. Costumam criar obstáculos e hostilizar os novos participantes do circulo do poder. Já os inimigos o realismo político encara de maneira diferente. Inimigos e adversários possuem muitos atrativos políticos.
Quando um inimigo político adere a sua causa significa um enfraquecimento na oposição, que pode não ser quantitativo mas com certeza será qualitativo. Aos olhos do eleitor o apoio de um ex-adversário valerá muito mais que o mesmo apoio dado por um aliado.
Outro detalhe a considerar é que inimigos e adversários não tem nenhum expectativa, até porque se as tinham em relação a você, eram negativas e o simples convite para integrar sua equipe já seria suficiente para uma reversão. Ele esperava ser ignorado ou até mesmo prejudicado.
Seu gesto ao convidá-lo será visto como um premio cuja expectativa ele não tinha. Isto o fará sentir-se devedor e sinceramente grato. Além disto, um adversário que se integra ao seu governo terá que se esforçar para reverter as dúvidas que irão pairar sobre sua real lealdade ao chefe, e terá que revelar-se competente, dedicado, não deixando dúvidas sobre sua lealdade e evitando criar-lhe problemas. E tendo rompido com o outro lado vai depender de você e do seu sucesso muito mais do que seus outros amigos.
Finalmente, o inimigo cooptado será infinitamente mais paciente e compreensivo do que os “amigos”, pois diferentemente destes, ele não pode se dar ao luxo de ficar a “beira da decepção" ou prestes a se afastar quando sentir-se ofendido, afinal, ele já mudou de campo uma vez. Não poderá repetir a dose pois estará revelando que ele seria o problema e não o grupo político que ele abandonou.
Tudo isto serve para mostrar e fazer entender porque os pensadores e os políticos são tão céticos em relação a amizade na política e sentem tanta atração pela cooptação dos adversários.
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