Ninguém pode negar que a “engenharia” aplicada à montagem do Plano Real foi, sem dúvida, a solução mágica que todos procuravam para aquela gigantesca inflação da época. Pérsio Arida, um dos “pais” do Plano já prognosticava, na época, a necessidade de se encontrar uma solução definitiva para os juros.
Muito se falou, muito se tentou fazer, muita coisa mudou nos últimos 10 anos. Uma das maiores mudanças em relação ao Brasil foi a inversão da situação econômica. Lá atrás o Brasil era devedor, estava quebrado, ajoelhava no milho frente ao FMI. Mas hoje a coisa está diferente. O Brasil se transformou em economia emergente, acumulou praticamente 1/3 de bilhão de dólares, pagou o FMI e até empresta dinheiro a ele. E ninguém pode negar, nem o Lula, de que tudo foi resultado do Plano Real, somado às mudanças na economia mundial.O Brasil mesmo pouco fez, economicamente falando, para chegar onde chegou. Tudo foi conseqüência.
Hoje temos dificuldades para lidar é com o excesso de dólares. As taxas de juros continuam altas, uma das maiores do mundo, senão a maior, ou seja, o desafio de desatar este nó está mais vivo do que nunca.
Naqueles tempos, como diria a Bíblia, criaram a famigerada Correção Monetária e com base nela os preços eram reajustados antes e depois da divulgação oficial dos índices inflacionários. Lembro-me que na Universidade ( voltei aos bancos escolares já meio velho) discutíamos economia e eu sempre dizia que seria possível derrubar a inflação com a caneta. Bastava se acabar com a Correção Monetária. Era taxado de louco.
Mas veio o Plano Real e a solução original da URV – Unidade Real de Valor, com a qual foi possível se acabar com a Correção Monetária. Vivemos no momento uma situação que já causa preocupação. Temos excesso de dólares, reservas gigantescas, economia em bom movimento, mas os juros não cedem e a inflação cresce.
Está na hora de toda a sociedade, empresários, governantes fazerem uma séria reflexão e tentarem buscar uma solução engenhosa, criativa e rapidamente viável, antes que a vaca vá para o brejo. O Brasil tem, sim, grandes economistas, técnicos com condições de colaborarem para se encontrar uma política para reduzir os juros e recolocar o país nos eixos. Claro que eles não estão no Governo, pois técnicos e políticos dificilmente se entendem. Enquanto um se preocupa com o “valor” o outro se preocupa com o “voto”. Então que tal chamar a turma do Plano Real para ajudar na questão dos juros ?
Enquanto estávamos em um círculo virtuoso Lula nadou de braçada e ganhou duas eleições e ainda fez sua sucessora. Mas agora estamos entrando em um círculo vicioso. Maiores taxas de juros atraem mais Capital, que busca sempre maior rendimento. Mais dólares entrando derruba o Real e assim nossos produtos ficam cada vez mais caros e nossas exportações vão minguando e as importações aumentando. Estamos deixando de exportar produtos e estamos exportando fabricas inteiras. Empresas decidem ir produzir em países onde os custos de produção sejam menores. Lá geram empregos, renda e exportam para o Brasil. Tá ou não tá errado este negócio ?
Se não bastasse o famoso “ Custo Brasil” que sobrecarrega nossas exportações, os elevados encargos trabalhistas que afogam as empresas e inibem o crescimento de vagas formais, a imensa carga tributaria que castiga qualquer produção , agora temos a agravante de uma taxa de juros inexplicavelmente elevada, cujo único argumento é conter a inflação. Mas se virarmos a coisa de cabeça para baixo, não seria a taxa de juros elevada a criadora de todos os demais problemas ? Senão vejamos;
Com uma taxa de juros no nível de 1º mundo, digamos entre 1 e 2 % a.a. a enxurrada de dólares acabaria. Só entrariam investimentos de longo prazo, das empresas. A especulação se acabaria e se retomaria a produção como objetivo de lucro.
Diminuindo a enxurrada de dólares o Real se recuperaria, nossos preços de exportações passariam a ser mais competitivos e as importações iriam se reduzindo na medida que os preços fossem ficando mais altos em função de um real mais forte. Ah! Mas as empresas precisam importar máquinas e equipamentos para aumentar a produção. Simples. Quem não se lembra dos “ex” da Tarifa Aduaneira. Criam-se mecanismos para que este tipo de importação não sofra problemas de continuidade.
Mais exportações significariam mais empregos, mais renda. Ah! Aí mora o perigo. Mais renda poderia significar maior consumo e daí para a inflação seriam dois palitos. Nem sempre.
Se o governo fizer uma reforma tributaria, diminuir os impostos em cascata, diminuir os encargos trabalhistas – Uma melhor administração do INSS e seus rombos poderia diminuir até 30% o que as empresas e os empregados pagam, sem quebrar a Previdência - as empresas poderiam investir no aumento da produção para atender a maior demanda por seus produtos.
Além disto, investir parte desta nossa imensa reserva cambial na eliminação dos problemas que fazem o famoso “ Custo Brasil”, tais como, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e estradas vicinais por onde se escoam a produção agrícola. O Brasil é um do maiores produtores agrícolas mas não tem estradas para escoar a produção, não tem portos suficientes para exportar, não tem meios para chegar aos portos porque as estradas estão destruídas e as ferrovias foram, a muito tempo, eliminadas. Quebra-se o galho com o restou e as perdas chegam a mais de 15 % da produção, além de um preço final muito caro.
Vendo assim até parece fácil, né mesmo ? É por isto que precisamos convocar os técnicos. Políticos e palpiteiros, como eu, não resolverão a questão.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário