sexta-feira, 6 de maio de 2011

INGRATIDÃO. NA POLÍTICA, NEM PENSAR !

Maquiavel já dizia; “ O vício da ingratidão nasce da avareza e da desconfiança”.

Em todas as atividades a ingratidão tem um efeito destrutivo elevado, porém, na política ele é arrasador. Como revela Maquiavel, é um defeito que tem sua origem na fraqueza do líder. Um líder fraco tem dificuldade em aceitar compartilhar a glória, o mérito e o sucesso com os outros. O mérito dos outros – principalmente quando os outros são seus subordinados – desperta nele o ciúme.

Reconhecer as vitórias, as realizações e o mérito dos outros, que integram sua área de poder, é um conflito constante com o seu desejo de monopolizar a glória e o sucesso. O líder fraco até pode reconhecer o valor de outra pessoa, mas em “off”. Reconhecer isto em público nem pensar. Isso lhe incomoda, e muito.

O que Maquiavel explica não é a desconfiança do líder forte, atento e astuto, mas sim a desconfiança do político que esconde sua fraqueza na imagem de poderoso. Resume-se à insegurança pessoal que alimenta a desconfiança para com o sucesso dos seus subordinados. Ele não percebe, ou se faz de desapercebido, mas quem está sob suas ordens e o público em geral, percebem a omissão do reconhecimento, e passam, todos, a ter uma só impressão : a ingratidão do chefe e a sua mesquinhez.

A manifestação de ingratidão caracteriza-se pela apropriação dos méritos alheios. Não teria lógica negar o mérito do outro sem tirar alguma vantagem meritória da ação. Ao apropriar-se do mérito do outro, o líder ou governante comete um segundo erro, além da ingratidão, que é a apropriação indébita de um sucesso que o beneficia, mas que não foi conquistado por ele. Isto ocorre muito mais vezes do que se pode imaginar.
Uma das formas mais comuns desta ocorrência é quando o líder ou um político convida para trabalhar com ele uma pessoa qualificada profissionalmente , experiente, com uma personalidade marcante. Muitos , que assim agem estão interessadas nas vantagens que esta pessoa traz mas não o ônus que a presença acarreta.

Assim, logo começa a “correr” o comentário de que, quem manda é o subordinado; que tudo que ele sugere e recomenda o seu chefe faz; O caminho mais curto para conseguir algo é procurá-lo, e não procurar o chefe.

Se o líder for uma pessoa segura de si, com personalidade forte, nada disso o abalará. Desde que haja lealdade por parte do talentoso subordinado o reconhecimento público dele não o diminui, pelo contrário, o eleva, porque soube escolher bem, pelos resultados obtidos, e porque o líder é ele.

Se por outro lado, o líder for inseguro de si mesmo, mesmo que apegado ao poder e à sua imagem, por certo irá sentir sua reputação ameaçada. Neste caso, tentará de todas as formas possíveis diminuir a exposição pública de seu talentoso subordinado, limitar sua esfera de decisão e omitir ou reduzir substancialmente o reconhecimento público dos seus méritos.

Se o líder deseja monopolizar os elogios, o sucesso e a glória sem incorrer no grave erro da ingratidão da apropriação indébita do mérito, deve então assumir pessoalmente a responsabilidade pela condução e execução das tarefas. O risco do insucesso será seu, mas por outro lado, ninguém lhe questionará a auto-atribuição do mérito no caso de sucesso.

Já o subordinado talentoso de um chefe inseguro, para evitar dissabores da ingratidão e da desconfiança, deve, após o sucesso, ou devolver os poderes que recebeu ao seu chefe, evitando qualquer demonstração de ambição, altivez e auto-promoção, ou sair “de mala e cuia”, levando consigo os méritos que fez por merecer, que neste caso, ficarão certificados com ele e não com seu ex-chefe.

Na primeira alternativa, seu gesto de devolver os poderes que recebeu, de manter a atitude de sobriedade e reserva, numa clara demonstração de aceitar a sua subordinação, podem ser suficientes para aplacar a insegurança do chefe.
A segunda alternativa somente cabe quando as relações entre ele e seu chefe já estão de tal forma estremecidas que, após o seu sucesso pessoal, ou ele toma a iniciativa de sair, ou o chefe a tomará para dispensá-lo.

A política castiga os ingênuos. O bom político conhece a si mesmo e conhece seus subordinados e adversários. A ingratidão é o resultado de erros de avaliação: de si mesmo e dos subordinados.

Nenhum comentário: