sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A SOCIEDADE NÃO DORMIU. APENAS COCHILAVA.


Tudo que está acontecendo no STF com o julgamento do mensalão atinge duramente o PT – Partido dos Trabalhadores. A história que o Partido criou para si como sendo um partido ligado à ética, defensor dos pobres, da Constituição e da independência política do país, foi definitivamente enterrada por este bando de malfeitores ora condenados.

Pode-se, agora,  entender as razões de seus lideres em  tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam dar publicidade das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.

Mas quis o destino colocar no STF este personagem que ficará na historia jurídica do país; Joaquim  Barbosa. Ele ,e os ministros do STF,  acertaram no alvo  ao definir a liderança petista, em 2005, como uma sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa Civil de Lula.

Como disse o ministro Celso de Mello,  este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, concluindo que isto  é macrodelinqüência governamental. O presidente Ayres Brito foi mais direto: É continuísmo governamental. É golpe!

Este julgamento tirou a roupa do PT e deixou o rei nu. Só assim se explica  o ódio dos seus fanáticos militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram os ”ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária.

Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Tanto que Lula, já um ex-presidente, ousou procurar um dos ministros para fazer pressão contra o julgamento.

Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.

A recepção dada pelos chamados líderes do PT  às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia. Democracia que sempre defenderam, enquanto oposição, mas que,  uma vez no poder, trataram de enterrar.

Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas em pronunciamento por rede nacional. Reconhecia ali a existência algo errado, mas que ele, coitado, não sabia de nada. No final do governo mudou de opinião: iria investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois seria então um ex-presidente, e como tal, impossibilitado de qualquer tipo de investigação, salvo se continuasse a ser um presidente nas sombras.

Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi absolvido pelas urnas ? um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições . Registre-se que, em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais chapas-brancas para ecoar sua fala.

As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a barba por fazer.

A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só freqüentam restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre importados, claro.

O único projeto da aristocracia petista  conservadora, oportunista e reacionária ,  é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e  do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária.

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil.

É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. Como fizeram.

O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido, depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores, o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe.

Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT.
Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários.

Mas  as decisões do STF nos dão um alento, uma esperança  de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública não se torne uma espécie de lema governamental,  e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário não se tenha transformado em símbolo nacional.



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