Enquanto muitos brasileiros já conseguem chegar até as salas
de aula de uma Faculdade ou Universidade, e mesmo um MBA ou pós-graduação, as
empresas segue reclamando da oferta e da qualidade de mão-de-obra no país.
De acordo com o IBGE, só no período entre 2001 e 2012, 867
mil brasileiros conseguiram um diploma em algum curso. Mas isto não reflete no aumento de produtividade, que foi de apenas
1,1 % naquele período, enquanto que os salários cresceram 169 % ( em dólares).
Esta decepção dos empresários com o que está sendo chamado
de “Geração do Diploma” é confirmada por especialistas, organizações
empresariais e consultores de recursos humanos.
O empresário não quer só o “canudo”. Ele quer capacidade e
disposição para aprender coisas novas e quando entrevistam, a maioria dos candidatos são
rejeitados.
Alegam que não adianta ter um diploma se o recém-formado não
sabe fazer um relatório ou um orçamento, se arquitetos e engenheiros não conseguem
resolver as equações mais simples, ou estagiários que ignoram as regras básicas da linguagem ou
tem dificuldades para se adaptarem às regras de ambientes corporativos.
De acordo com uma respeitável empresa de RH, para preencher
5.000 vagas entrevistaram 770 mil candidatos. E não conseguiram preencher
todas. Em 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as
empresas têm mais dificuldades para
encontrar talentos. O Japão é o primeiro. A diferença é que no Japão as
exigências são muito maiores.
Dados interessantes mostram que o Brasil tem alcançado
índices de desemprego baixos, se comparados a outras economias mais avançadas,
porém, mais um detalhe interessante. 50 % destes desempregados têm mais de 11
anos de estudo.
Mesmo com a expansão de empregos e do ensino, além de maior
acesso a cursos superiores, o trabalhador brasileiro ainda não consegue
oferecer o conhecimento específico que os melhores cargos exigem.
E porquê isto acontece ?
Especialistas apontam três causas para a decepção com a “geração diploma”.
- Qualidade do ensino e habilidade dos formandos.
- Aumento recorde de novos estabelecimentos de ensino, e na
maioria dos casos sem uma melhora na qualidade do ensino.
- Cursos universitários que nada mais são do que uma
extensão do ensino fundamental.
De acordo com os especialista, a base do problema continua sendo a
dificuldade da população de baixa renda ter acesso às melhores escolas e
melhores cursos. Cria-se, então, um círculo vicioso. Muitas escolas, muitos
formandos, baixa qualidade de ensino, péssima formação, baixa produtividade,
que vai gerar baixos salários e manter a desigualdade entre os que podem pagar
por uma formação melhor e os que não podem,
mas tem diploma.
O Brasil terá dificuldades para vencer este desafio. De
acordo com o Instituto Paulo Montenegro (IMP), 38 % dos universitários que
concluem seus cursos seriam analfabetos funcionais.
“O que
significa analfabetismo funcional?
É considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever um enunciado simples, como um bilhete, por exemplo, ainda não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para participar da vida social em suas diversas dimensões: no âmbito comunitário, no universo do trabalho e da política, por exemplo. “
É considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever um enunciado simples, como um bilhete, por exemplo, ainda não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para participar da vida social em suas diversas dimensões: no âmbito comunitário, no universo do trabalho e da política, por exemplo. “
Na prática, isto pode significar que quatro em cada dez universitários até sabem ler
textos simples, mas seriam incapazes de interpretar e associar informações. Da
mesma forma, não conseguiriam analisar tabelas, mapas, gráficos ou mesmo fazer
contas um pouco mais complexas.
Os estudos revelam que esta tendência deve aumentar, e o
problema tem origem não só no ensino básico de má qualidade como também no
ambiente familiar que pouco contribuiu para sua aprendizagem. Nos dias de hoje
os papais e mamães deixam tudo por conta dos professores, não acompanham os
estudos dos filhotes. Poucos ajudam na “lição de casa”.
Outra razão que as pesquisas apontaram para a decepção com a
geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e também a falta
de experiência profissional.
Claro está que a experiência virá com o tempo, com o
trabalho, e muitos jovens formados não conseguem se posicionar em uma empresa,
respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com a figura da autoridade.
Outro grande problema é que o recém formado tem expectativas
imediatas e ansiedade para conseguir um cargo que faça jus ao seu diploma.
Muitas vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser Gerente ou mesmo
Diretor.
Neste quadro, de baixo desemprego, fica difícil para a
empresa reter bons quadros, pois a demanda por bons profissionais é cada vez
maior e a formação dos mesmos cada vez mais demorada, e cara. A busca por
salários melhores causa rotatividade e quebra o chamado período de aprendizado.
Finalizando, a explicação dos especialistas para a decepção
com a “geração do diploma” estaria na falta de foco entre os cursos mais
procurados e a demanda do mercado.
Surgem os Bacharéis. A ideia no Brasil é que cargos
administrativos, de gestão e comando são os que pagam mais e todo mundo que fazer
Ciências Humanas ou Ciências Sociais – administração, direito, pedagogia, etc .
Mas isto está mudando, como mudou na Europa há muitos anos.
O Brasil está crescendo, economicamente falando, está se
desenvolvendo tecnicamente e a demanda por engenheiros, químicos, bioquímicos
aumenta na proporção daquele crescimento.
Na aeronáutica, na indústria petroleira, na indústria da
mineração, as necessidades de técnicos são constantes. Os salários variam entre
8 mil e 10 mil reais, podendo chegar a 15 ou 20 mil para os que já estão no
mercado, tem experiência e currículum. Salários iguais, ou até melhores, do que
os das áreas administrativas.
Cabe ao Governo incentivar a formação técnica através de
novas Escolas Federais, da geração de cursos desde o ensino fundamental para
preparar o jovem na escolha de seu curso superior. Hoje ganha mais um jovem
recém formado pelo SENAI do que um outro formado por uma faculdade sem
qualidade.
O que foi feito errado poderá ser reparado, mesmo que
demore, mas é possível parar de errar e começar a fazer a coisa certa. Conheço
centenas de jovens com diploma , mas que não conseguem emprego com remuneração
que possa compensar seu esforço, físico e financeiro, para se formar.
A velocidade da tecnologia e do desenvolvimento industrial é
muito maior que a velocidade do aprendizado atual. Equalizar isto deve ser o
objetivo principal, seja das escolas, seja das empresas.
Foi-se o tempo em que um diploma dava o título de doutor,
dava um bom cargo e um bom salário. Hoje qualquer jovem pode ter um diploma. O
difícil será ter competência.