segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

GERAÇÃO DO DIPLOMA



Enquanto muitos brasileiros já conseguem chegar até as salas de aula de uma Faculdade ou Universidade, e mesmo um MBA ou pós-graduação, as empresas segue reclamando da oferta e da qualidade de mão-de-obra no país.

De acordo com o IBGE, só no período entre 2001 e 2012, 867 mil brasileiros conseguiram um diploma em algum curso. Mas isto não reflete  no aumento de produtividade, que foi de apenas 1,1 % naquele período, enquanto que os salários cresceram 169 % ( em dólares).

Esta decepção dos empresários com o que está sendo chamado de “Geração do Diploma” é confirmada por especialistas, organizações empresariais e consultores de recursos humanos.
O empresário não quer só o “canudo”. Ele quer capacidade e disposição para aprender coisas novas e quando  entrevistam, a maioria dos candidatos são rejeitados.

Alegam que não adianta ter um diploma se o recém-formado não sabe fazer um relatório ou um orçamento, se  arquitetos e engenheiros não conseguem resolver as equações mais simples, ou estagiários  que ignoram as regras básicas da linguagem ou tem dificuldades para se adaptarem às regras de ambientes corporativos.

De acordo com uma respeitável empresa de RH, para preencher 5.000 vagas entrevistaram 770 mil candidatos. E não conseguiram preencher todas. Em 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as empresas têm  mais dificuldades para encontrar talentos. O Japão é o primeiro. A diferença é que no Japão as exigências são muito maiores.  

Dados interessantes mostram que o Brasil tem alcançado índices de desemprego baixos, se comparados a outras economias mais avançadas, porém, mais um detalhe interessante. 50 % destes desempregados têm mais de 11 anos de estudo.

Mesmo com a expansão de empregos e do ensino, além de maior acesso a cursos superiores, o trabalhador brasileiro ainda não consegue oferecer o conhecimento específico que os melhores cargos exigem.

E porquê isto acontece ?  Especialistas apontam três causas para a decepção com a “geração diploma”.

- Qualidade do ensino e habilidade dos formandos.
- Aumento recorde de novos estabelecimentos de ensino, e na maioria dos casos sem uma melhora na qualidade do ensino.
- Cursos universitários que nada mais são do que uma extensão do ensino fundamental.

De acordo com os especialista,  a base do problema continua sendo a dificuldade da população de baixa renda ter acesso às melhores escolas e melhores cursos. Cria-se, então, um círculo vicioso. Muitas escolas, muitos formandos, baixa qualidade de ensino, péssima formação, baixa produtividade, que vai gerar baixos salários e manter a desigualdade entre os que podem pagar por uma formação melhor e os que não podem, 
mas tem diploma.

O Brasil terá dificuldades para vencer este desafio. De acordo com o Instituto Paulo Montenegro (IMP), 38 % dos universitários que concluem seus cursos seriam analfabetos funcionais.
O que significa analfabetismo funcional?

É considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever um enunciado simples, como um bilhete, por exemplo, ainda não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para participar da vida social em suas diversas dimensões: no âmbito comunitário, no universo do trabalho e da política, por exemplo. “

Na prática, isto pode significar que quatro  em cada dez universitários até sabem ler textos simples, mas seriam incapazes de interpretar e associar informações. Da mesma forma, não conseguiriam analisar tabelas, mapas, gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas.

Os estudos revelam que esta tendência deve aumentar, e o problema tem origem não só no ensino básico de má qualidade como também no ambiente familiar que pouco contribuiu para sua aprendizagem. Nos dias de hoje os papais e mamães deixam tudo por conta dos professores, não acompanham os estudos dos filhotes. Poucos ajudam na “lição de casa”.

Outra razão que as pesquisas apontaram para a decepção com a geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e também a falta de experiência profissional.
Claro está que a experiência virá com o tempo, com o trabalho, e muitos jovens formados não conseguem se posicionar em uma empresa, respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com a figura da autoridade.

Outro grande problema é que o recém formado tem expectativas imediatas e ansiedade para conseguir um cargo que faça jus ao seu diploma. Muitas vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser Gerente ou mesmo Diretor.

Neste quadro, de baixo desemprego, fica difícil para a empresa reter bons quadros, pois a demanda por bons profissionais é cada vez maior e a formação dos mesmos cada vez mais demorada, e cara. A busca por salários melhores causa rotatividade e quebra o chamado período de aprendizado.

Finalizando, a explicação dos especialistas para a decepção com a “geração do diploma” estaria na falta de foco entre os cursos mais procurados e a demanda do mercado.
Surgem os Bacharéis. A ideia no Brasil é que cargos administrativos, de gestão e comando são os que pagam mais e todo mundo que fazer Ciências Humanas ou Ciências Sociais – administração, direito, pedagogia, etc . Mas isto está mudando, como mudou na Europa há muitos anos.

O Brasil está crescendo, economicamente falando, está se desenvolvendo tecnicamente e a demanda por engenheiros, químicos, bioquímicos aumenta na proporção daquele crescimento.
Na aeronáutica, na indústria petroleira, na indústria da mineração, as necessidades de técnicos são constantes. Os salários variam entre 8 mil e 10 mil reais, podendo chegar a 15 ou 20 mil para os que já estão no mercado, tem experiência e currículum. Salários iguais, ou até melhores, do que os das áreas administrativas.

Cabe ao Governo incentivar a formação técnica através de novas Escolas Federais, da geração de cursos desde o ensino fundamental para preparar o jovem na escolha de seu curso superior. Hoje ganha mais um jovem recém formado pelo SENAI do que um outro formado por uma faculdade sem qualidade.

O que foi feito errado poderá ser reparado, mesmo que demore, mas é possível parar de errar e começar a fazer a coisa certa. Conheço centenas de jovens com diploma , mas que não conseguem emprego com remuneração que possa compensar seu esforço, físico e financeiro, para se formar.

A velocidade da tecnologia e do desenvolvimento industrial é muito maior que a velocidade do aprendizado atual. Equalizar isto deve ser o objetivo principal, seja das escolas, seja das empresas.
Foi-se o tempo em que um diploma dava o título de doutor, dava um bom cargo e um bom salário. Hoje qualquer jovem pode ter um diploma. O difícil será ter competência.